quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Carro das memórias do rio e do trilho



Carro das memórias do rio e dos trilhos. 2007. Instalação sobre carro de boi do Museu Ferroviário, Pires do Rio, GO. Foto: Divino Sobral

Um carro de boi do acervo do Museu Ferroviário de Pires do Rio é o suporte desta instalação. Partes do carro foram enroladas com fios de lã colorida, remetendo ao contexto do transporte usado desde tempos imemoriais no território goiano, tanto no trabalho quanto nas peregrinações e procissões religiosas no contexto da cultura popular. Meio de transporte arcaico, também foi utilizado como veículo para transportar os materiais necessários à construção da estrada de ferro que entrou em Goiás no início do Séc. XX.

A cidade de Pires do Rio nasceu de um aglomerado de trabalhadores que construíram a ferrovia e que se fixaram no local contornado pelo volumoso Rio Corumbá. Sua paisagem tem a especificidade de ser marcada por duas linhas: uma sinuosa, fluida, líquida desenhada pelo rio Corumbá, a outra reta, rígida, metálica desenhada pelo trilho.

Com os participantes da oficina realizei um laboratório de memória coletiva, pedindo a eles e elas que escrevessem suas memórias mais importantes guardadas sobre os acontecimentos que marcaram suas vidas e relacionadas às margens do rio e à ferrovia. Os registros depois foram lidos numa sessão de memória oral para que todos compartilhassem os processos pelos quais as memórias individuais e coletivas se fundem. As narrativas trouxeram depoimentos emocionantes sobre histórias de amor, saudades de afetos, reminiscências de sons, cheiros, cores; a sensação de duração, a percepção do tempo, as conexões entre o passado e o presente. Ao cabo, estas memórias escritas foram guardadas enroladas em mechas de algodão com manchas de tinta guache azul em vidros de cozinha com água, pérolas e miçangas azuis, como “conservas de memórias”, dependuradas no carro que as transporta, poeticamente, para o futuro..

Este trabalho foi realizado dentro do programa Redinha Arte Contemporânea curado por Aguinaldo Coelho, e patrocinado pelo Edital Conexão MinC / Funarte / Petrobrás 2007, entre os dias 9 e 12 de dezembro em Pires do Rio (cidade do sudeste goiano), quando ministrei uma oficina de caráter teórico e prático.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Alguns aspectos do desenho contemporâneo brasileiro




Sem título. Escultura em ferro, cobre e pérolas. 2008. Detalhe. Foto: Divino Sobral

“Alguns aspectos do desenho contemporâneo brasileiro” está em cartaz na Galeria do SESC Pinheiros de 17 de janeiro a 30 de março de 2008. Com curadoria de Shirley Paes Leme a mostra apresenta um panorama das diferentes maneiras de pensar o desenho, exibe obras com distintos procedimentos, materiais e poéticas, debatendo o conceito de desenho no campo ampliado da arte contemporânea. Participo destra exposição com uma obra que utiliza ferro, cobre e pérolas para criar relações entre elementos primordiais do desenho – como o ponto e a linha – e a escultura, resultando numa proposta que transgride o suporte para revelar forças plásticas e afetivas que atravessam o espaço desafiando o espectador. A exposição “Alguns aspectos do desenho Contemporâneo” tem em seu elenco artistas como Carmela Gross, Ana Maria Tavares, Cabelo, Paulo Climachauska e Marcelo Moscheta, e integra o simpósio “O desenho e seus papéis”, concebido e coordenado por Edith Derdyk.