sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Coral de Árvores - Memórias dos Rios de Mato Grosso

Coral de Árvores - Memórias dos rios de Mato Grosso. Intervenção na Praça Ermés, Nova Xavantina, MT. 2009. Foto: Divino Sobral.

"Coral de Árvores – Memórias dos Rios de Mato Grosso” é uma intervenção na paisagem da cidade de Nova Xavantina (MT) que realizei com a participação de artistas locais. Está instalada na Praça Ermés de Souza, no bairro Xavantina Velha desde o dia 20 de fevereiro e permanecerá em exibição até o dia 21 de março de 2009.

A intervenção ocupou um conjunto de 35 árvores que tiveram seus troncos e galhos envolvidos com fios de lã colorida, criando roupas que agasalham a vegetação, e resulta da oficina de reflexão e criação em arte contemporânea que integrou o evento 2º Encontro Contemporâneo de Artistas Visuais do Vale do Araguaia Mato Grosso, realizado no período de 17 a 21 de fevereiro de 2009.

A obra opera com o conceito de sinestesia desenvolvido por Wassily Kandinsky, que estabelece uma teoria de equivalências sensoriais entre as sete cores do arco-iris e as sete notas musicais. As diferentes combinações de cores proporcionam um ambiente de acordes sonoros à paisagem como se as árvores estivessem cantando. A obra cria uma situação de pintura que tem como suporte as árvores e a paisagem local, além de enfatizar as qualidades plásticas dos desenhos e dos volumes escultóricos de troncos e de galhos. No seu processo de instauração no espaço público o Coral de Árvores relaciona o agrupamento de artistas trabalhando sobre a paisagem com a formação do coral, enquanto formação musical de inúmeras vozes que cantam em conjunto dando corpo à obra.



“Coral de Árvores – Memórias dos Rios de Mato Grosso” reúne minhas investigações sobre as lembranças que a comunidade de artistas de Nova Xavantina guarda de suas relações com os rios que banharam suas infâncias. Durante um laboratório de memória coletiva realizado num píer à beira do Rio das Mortes (ou Rio Manso, como preferem alguns, e que estava cheio, caudaloso) abordei alguns aspectos teóricos e poéticos da memória e li poemas de Cora Coralina (sobre as ligações afetivas que mantemos com a natureza) e de Cecília Meireles (sobre o poder das palavras); logo após, solicitei que escrevessem cartas memoriais destinadas a um parente futuro, que narrassem as mais importantes vivências experimentadas diante ou dentro dos rios. As cartas cotejadas de lágrimas foram encapsuladas em objetos que conceituo como “Conservas de memória”, enroladas com mechas de algodão e pérolas e guardadas em vidros contendo água azul, que posteriormente foram dependurados, como frutos, no alto de uma árvore no centro da Praça Ermés. O conteúdo destas cartas será publicado no catálogo do Encontro.

Na parte teórica do 2º Encontro Contemporâneo de Artistas Visuais do Vale do Araguaia Mato Grosso, ministrei palestras que tinham como conteúdo as produções artísticas contemporâneas, internacional, brasileira, goiana, minha própria obra, e ainda a exibição de registros videográficos de performance e obras de vídeo-art.



Por uma semana investiguei Nova Xavantina, uma cidade fundada em 1943 pelo Coronel Flaviano de Matos Vanique, comandante da Expedição Roncador Xingu, durante a marcha para o oeste promovida pelo Governo Getúlio Vargas. Participavam da Expedição os irmãos sertanistas Vilas Boas (que defenderam uma nova política de defesa da cultura indígena). Leonardo Vilas Boas residiu na vizinhança de Vanique e suas casas estão, hoje, infelizmente em péssimo estado de conservação no centro histórico. O nome de Xavantina é uma homenagem ao povo Xavante, e Nova Xavantina foi a denominação adotada depois da formação do município com a união entre Xavantina e Nova Brasília, duas cidades antes separadas pelo Rio das Mortes. Estar em Nova Xavantina me permitiu conhecer um pouco mais dos contrastes culturais do sertão do Brasil, conhecer de perto o que é feito nessa terra de recente ocupação, de contato entre brancos e índios, e que hoje é habitada por pessoas das mais diversas procedências, sotaques e fisionomias.

O 2º Encontro Contemporâneo de Artistas Visuais do Vale do Araguaia Mato Grosso é um projeto patrocinado pelo Governo do Estado do Mato Grosso, através da Secretaria de Estado de Cultura, aprovado pelo Conselho de Estado de Cultura, Lei Estadual de Fomento à Cultura, e com parceria cultural da Fundação Nacional de Arte – FUNARTE e da Prefeitura de Nova Xavantina.



Laboratório de memória coletiva à beira do Rio das Mortes.

Coral de Árvores - Memórias dos rios de Mato Grosso. Intervenção na Praça Ermés de Souza, em Nova Xavantina, MT. 2009. Foto: Divino Sobral.







Nenhum comentário: