domingo, 30 de agosto de 2009

Recordações de uma paisagem não vista


O Centro Cultural Banco do Nordeste – Cariri, em Juazeiro do Norte, Ceará, apresenta no período de 17 de outubro a 31 de dezembro de 2009, minha exposição individual “Recordações de uma paisagem não vista”. A curadoria é assinada por Daniela Labra, crítica chilena radicada no Rio de Janeiro.

Na exposição estão presentes duas obras recentes (instalação e vídeo) que pretendem dialogar com algumas características da paisagem geográfica, histórica, humana, literária e artística de Juazeiro do Norte, do Cariri, do Ceará e do Nordeste.

A instalação de grande formato chamada “Recordações de uma paisagem não vista” é concebida como livro de viajante, construído pela relação entre imagens e textos indiciando depoimentos, acontecimentos, personalidades, datas históricas, extratos de poemas, de romances e de letras de músicas, ilustrações nostálgicas e mapas, letras e palavras bordadas sobre 40 fronhas oxidadas que ocupam paredes pintadas de azul (a cor faz referência aos textos de José de Alencar e Patativa do Assaré). As fronhas soltas são como páginas avulsas de um livro desencadernado e o uso como suporte abre para conexões entre o sono, o sonho, os processos mentais noturnos de formação e desenvolvimento da memória. As memórias individual e coletiva se encontram por meio de conversas entre o artista e três pessoas de origem cearense que falaram sobre recordações, sobre a paisagem, a história, o passado, as lendas e os vultos do estado de origem. A instalação trata os estereótipos como representações emblemáticas ainda plenas de substância, como referentes clássicos para a reflexão contemporânea; subtrai dos clichês sua natureza estritamente regionalista e os atualizam em outros contextos em convivência com outras narrativas, visuais e verbais. Desde Frans Post, Antônio Conselheiro, Padre Cícero, Lampião, José de Alencar, Patativa do Assaré, Luiz Gonzaga, Euclides da Cunha, Rachel de Queiroz, Villa-Lobos e Antônio Bandeira, a obra alinhava narrativas e promove um encontro com a memória do nordeste e do Ceará por meio da sua produção cultural, da sua inserção na história brasileira.

Segunda obra apresentada, o vídeo “Os poetas e as pedras” é um documentário de sete minutos que registra minha performance usando um carro de som para a leitura de poemas de vinte e oito autores abordando a figura da pedra; a leitura é feita por um trajeto de ruas calçadas de pedras na Cidade de Goiás, a antiga capital goiana. As pedras poéticas trazidas pelo vídeo pretendem acordar no espectador a memória das pedras que contêm fósseis na Chapada do Araripe.

As duas obras, o vídeo e a instalação, colocam minhas preocupações com a estrutura conceitual do trabalho, com a incorporação do signo verbal e com o desenvolvimento de narrativas, com o uso de paisagens e histórias específicas aos locais onde desenvolvo meus trabalhos.

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