sábado, 28 de fevereiro de 2009

Hodiernos. Texto de Carlos Sena


O tempo é água. 1997. Escultura em borracha e algodão oxidado.
Foto: François Calil.

Texto de Carlos Sena

"Um dos artistas mais versáteis do nosso circuito, Divino Sobral, atua também como curador e crítico de arte. Sua obra iniciou-se com pesquisas objetuais e propostas de instalação entranhadas nas heranças populares; mas depois o artista deslocou-se para outro campo desenvolvendo um trabalho que se fez marcado pela fusão do popular com o erudito, pela artesania obsessiva, pela manufatura exacerbada e pela preocupação com os registros temporais e memoriais.
Lançou mão de inúmeros materiais, procedimentos e linguagens. Elaborou esculturas pendentes, orgânicas e de configuração linear, empregando borracha, algodão, palha de aço e até capim. Pesquisou o agregamento do cabelo humano a fragmentos de roupas evocando uma lembrança erótica do corpo. Também enrolou contas de cabelos de 80 pessoas com sua saliva, fundindo uma memória corporal coletiva. Desenvolveu esculturas com sabão artesanal que se posicionavam como ruínas arquitetônicas. Elaborou desenhos, pinturas e objetos utilizando apenas o processo de oxidação para evocar o esquecimento.
A proximidade cotidiana com o exercício do texto, levou-o a agregar à sua obra reflexões sobre o universo da escrita. Já há algum tempo cria num work in progress uma escritura arcaica com centenas de pequenos objetos oxidados. Obstruiu o conteúdo de livros utilizando encáustica e chumbo. Transcreveu fragmentos literários em lençóis e toalhas. Atualmente compõe desenhos que formam palimpsestos com a sobreposição de diversas narrativas, e pesquisa as possibilidades da performance e da land art."

Texto publicado no catálogo da exposição “Hodiernos”. Galeria da faculdade de Artes Visuais / UFG, Goiânia, 2003.

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